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Tempos Modernos

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Todo ano pensamos que aquele é o pior ano de todos. Simplesmente por alguma tragédia acontecer, um navio afundar, um avião colidir no céu ou a morte vir nos fazer uma visita inesperada. Isso acontece porque passamos muito tempo pensando em nós, e acabamos por esquecer o mundo ao nosso redor e que, infelizmente, tragédias acontecem todos os dias.
Todos os dias alguém morre, uma pessoa é despedida no trabalho ou ganha a desesperança no amor. Todos os dias alguém perde a hora no ponto de ônibus, a esperança nos sonhos e a fé sobre dias melhores. Todos os dias alguém cede à depressão, a ansiedade e comete erros, às vezes, irreversíveis.
Mas, nada disso é proposital. Apenas não possuímos o controle sobre nossos sentimentos e o universo regente, o que é algo natural.
Nós fazemos parte da geração com o maior índice de depressivos que já existiu. Será por que antes os nossos antepassados não possuíam a coragem suficiente em expressar tão bem seus sentimentos, e hoje teríamos a coragem para tal?
Não, não acho que seja somente por isso. Apesar de muitas teorias mostrarem exatamente esse ponto como principal meio de argumentação.
Entendo que em tempos antigos, o mundo era mais difícil. As pessoas tendiam a esconder mais as coisas, os sentimentos e os amores. Possuíam mais medo, receio e se estudarmos um pouco de História, entendemos que tinham motivos para tal. Afinal, hoje temos mais direitos. Para as mulheres, para os negros, para além do que a burguesia impunha e se mantinha.  Expressamo-nos melhor, isso é a verdade... Mas, não toda ela.
Crises existenciais, complexos de inferioridade. O crescente poder dos meios de comunicação em massa e o acumulo de sentimentos dos nossos antepassados. Acredito que esses sejam os principais motivos para uma geração tão depressiva e dependente de afeto.
Acordamos e logo abrimos o Instagram, a fim de visualizar a vida de outras pessoas que sempre parecem ter momentos melhores que os nossos, as roupas melhores que as nossas, os amigos melhores que os nossos, a família mais amorosa e os pais mais compreensíveis, o corpo ideal e o cabelo que já acorda hidratado, bem como o rosto longe de imperfeições.
Após, visualizamos o Facebook, com a disposição de memes e noticias ruins. Pois, como tratado anteriormente, tragédias acontecem todos os dias. E que lugar melhor para contempla-las do que na plataforma redigida por Mark Zuckerberg?
É claro que não paramos por aí. Visualizamos nossos e-mails, respondemos as mensagens no Whatssap, as relações vazias, cheias de desejo, os próximos “rolês” na pequena cidadezinha do interior, com as mesmas pessoas, com os mesmos assuntos e as mesmas músicas.
Chegamos então ao Tinder, mais um aplicativo vazio em que encontramos a necessidade de usufruir como meio de escolha sobre nossos próximos relacionamentos. Não acredito encontrar o grande amor da minha vida nesse âmbito, mas, por incrível ao que pareça, há quem encontre. Tenho amigos que se conheceram assim, e, atualmente, perduram em seus relacionamentos duradouros em ótimas circunstâncias. Afinal, a Internet se tornou um dos maiores meios, se não o mais, para se conhecer pessoas.
Teremos também o Twitter, uma plataforma de desabafo online perante os adolescentes e indivíduos iniciadores da vida adulta descontentes com o mundo em que vivem. Partilhando inseguranças, desavenças, amores e outras atribuições. O ponto chave da rede: A vida alheia sendo exposta em 140 caracteres.
Todas essas atribuições fazem alusão aos “Tempos Modernos” de Charles Chaplin. O homem máquina, onde, quem se propõe a realizar o diferente, no caso do filme, o artista, torna-se aos olhos alheios um indivíduo sem futuro e pretensões. Neste contexto, aquele se dispõe fora do mundo virtual (das máquinas), não existe. Ao menos, não possui uma vida válida a ser vivida. Tudo deve ser postado, partilhado e posto as opiniões alheias. O que aumenta as nossas inseguranças, complexos de ansiedade e outros pontos do nosso psicológico, deixando a nossa saúde mental em segundo plano. 
Os melhores momentos são aqueles pelos quais não contamos a mais ninguém. Apenas aqueles que os partilharam conosco contemplam o direito a opinião e ao compartilhamento de informações da data referida. Somente aqueles que estiveram ao nosso lado, sabem o que passamos, entendem o que vivemos e nos ajudam em nossos tropeços. E são somente deles que precisamos tanto nos momentos ruins, quanto nos momentos bons.
A vida não precisa ser postada. A vida precisa ser vivida. E a nossa saúde mental, preservada.
Devemos ir além dos momentos ruins, das tragédias mundanas, dos meios tecnológicos e dos receios da vida. Devemos contemplar as coisas mais simples, o riso de um bebê, a alegria de uma criança ao sentir o cheirinho do bolo de cenoura pré-assado no forno, um novo corte de cabelo, uma viagem marcada, um passeio no parque com um velho amigo, um novo emprego, as pessoas que chegam e acrescentam. As pequenezas e alegrias que se estendem e, por descuido, deixamos passar.
Afinal, a vida não passa disso. Momentos. São eles que nos fazem lembrar de quem somos ou de quem deveríamos ser. Das coisas que fizemos para chegarmos onde estamos, dos caminhos que trilhamos e dos erros que cometemos. Por isso, balanceie os seus dias, os seus momentos. Agradeça pelos dias bons, e mais ainda pelos ruins. A vida vale mais do que postamos. Lembre-se que: Tragédias acontecem todos os dias e circunstâncias melhores estão por vir.  Acredite. 

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