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TIMIDEZ

        Por muito tempo me questionei sobre o por que dessa minha timidez excessiva. Me privei em diversas situações da vida por medo do que as outras pessoas iriam pensar, por medo de não ser boa o suficiente. 

        Tentei me livrar desses pensamentos e preocupações de todos os jeitos. Até que um dia, em mais uma tentativa falha dessa ideia excludente, já me perdendo em essência, percebi: eu não posso me livrar dela (a timidez), pois é uma característica da minha personalidade. E quando não podemos simplesmente nos livrar de algo, temos de nos adaptar a situação da melhor forma. Afinal, o ser humano tende a ser adaptável como método de sobrevivência.

        Percebi também que se não fosse a minha timidez, talvez eu não tivesse essa sensibilidade para enxergar o mundo, e, assim, não conseguiria transmitir esse olhar através da escrita, de maneira a transformar tudo em história.

        Ao meu ver, nossas ideias, a forma como agimos e pensamos, são valiosas demais para serem inibidas. São únicas. Fantásticas. 

      E todos os pensamentos que vieram antes, serviram para moldar os que temos hoje. Contemplando o que somos, o que temos e o que seremos de agora em diante.

        Por isso, deixo meu íntimo na escrita, contemplo minha liberdade em dizeres que muito provavelmente não serão os mesmos daqui uns anos. Assim como nós, eu e você. E, por fim, me permito ser uma constante contradição.

Sapatos sujos

Ninguém mais quer saber da verdade
As pessoas só querem mesmo saber sobre quando as coisas vão acontecer para você
Quando você irá conseguir um emprego?
Quando você irá passar na universidade?
Quando você finalmente irá encontrar o amor?
Elas lhe submetem as trágicas mudanças
Terminou o relacionamento de três anos
Trocou o curso pela segunda vez no ano
Decidiu mudar a rota dos planos
E agora?
Ninguém calça os seus sapatos sujos
Ninguém passa os seus perrengues cotidianos
Ninguém entende as curvaturas da vida como você
As fotos não demonstram o real do ser
E é isso o que as pessoas gostam
É isso o que as pessoas querem que você às mostre
O escancaro do que não é real
Para que este,
Passe a ser.

2019


Por um tempo, me perdi. As coisas não saíram como o planejado. E eu planejo, muito. Faço listas, as checo e as organizo em pastas no computador. Por isso, os dias se tornaram caóticos quando me vi em um cenário completamente oposto ao que havia imaginado, e, dentre meus dias numerados perante minha falta de perspectiva neste novo ciclo, a vida me virou do avesso. E do avesso, me virou ao contrário, e deste me fiz outra, e é essa outra que lhes escreve agora.
Atualmente, vivo na dualidade entre me entregar e ser resistente. Ninguém me tem, a não ser eu mesma. O que para alguns passa a ser considerado defeito. Entretanto, no fim, somos todos quebrados e defeituosos. E os quebrados nos fazem ser o que somos. Fazem-nos crescer e nos trazem maturidade para encarar os perrengues da vida. Já que, ninguém calça os nossos sapatos sujos ou entende as curvaturas presentes em nossos caminhos cotidianos.
E foi nessa perspectiva que finalmente entendi que todos os “não” recebidos, se fazem abertura para os tantos outros “sim” que receberemos ao longo da vida. Assim, me entrego ao caminho infinito dessa trilha que agora pertenço, em que cada parte do meu corpo nu se faz ansiosa pelos desdobramentos que se sucedem na minha mente, no meu coração, na minha alma e na minha vida.
Dessa forma, meu coração anda nu, feito meu corpo. Pertenço-me e ao mesmo tempo, me doo de formas inimagináveis. Sou coragem, feita de sonhos. Romântica, fria e introspectiva. Sou tudo e nada, aliada a esperança que me faz querer viver.

Quanto mais passa, menos a gente tem

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O que fazer quando nos sentimos perdidos? Como se nada mais fizesse sentido. Como se as pessoas e a vida delas seguissem a nossa volta, enquanto nós continuamos estáticos, em busca de algo a mais para oferecer. Algo a mais para ser. Quando tudo perde a graça e só a sua presença te faz morada. Já que no fim, é você por você.