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Sapatos sujos

Ninguém mais quer saber da verdade
As pessoas só querem mesmo saber sobre quando as coisas vão acontecer para você
Quando você irá conseguir um emprego?
Quando você irá passar na universidade?
Quando você finalmente irá encontrar o amor?
Elas lhe submetem as trágicas mudanças
Terminou o relacionamento de três anos
Trocou o curso pela segunda vez no ano
Decidiu mudar a rota dos planos
E agora?
Ninguém calça os seus sapatos sujos
Ninguém passa os seus perrengues cotidianos
Ninguém entende as curvaturas da vida como você
As fotos não demonstram o real do ser
E é isso o que as pessoas gostam
É isso o que as pessoas querem que você às mostre
O escancaro do que não é real
Para que este,
Passe a ser.

2019


Por um tempo, me perdi. As coisas não saíram como o planejado. E eu planejo, muito. Faço listas, as checo e as organizo em pastas no computador. Por isso, os dias se tornaram caóticos quando me vi em um cenário completamente oposto ao que havia imaginado, e, dentre meus dias numerados perante minha falta de perspectiva neste novo ciclo, a vida me virou do avesso. E do avesso, me virou ao contrário, e deste me fiz outra, e é essa outra que lhes escreve agora.
Atualmente, vivo na dualidade entre me entregar e ser resistente. Ninguém me tem, a não ser eu mesma. O que para alguns passa a ser considerado defeito. Entretanto, no fim, somos todos quebrados e defeituosos. E os quebrados nos fazem ser o que somos. Fazem-nos crescer e nos trazem maturidade para encarar os perrengues da vida. Já que, ninguém calça os nossos sapatos sujos ou entende as curvaturas presentes em nossos caminhos cotidianos.
E foi nessa perspectiva que finalmente entendi que todos os “não” recebidos, se fazem abertura para os tantos outros “sim” que receberemos ao longo da vida. Assim, me entrego ao caminho infinito dessa trilha que agora pertenço, em que cada parte do meu corpo nu se faz ansiosa pelos desdobramentos que se sucedem na minha mente, no meu coração, na minha alma e na minha vida.
Dessa forma, meu coração anda nu, feito meu corpo. Pertenço-me e ao mesmo tempo, me doo de formas inimagináveis. Sou coragem, feita de sonhos. Romântica, fria e introspectiva. Sou tudo e nada, aliada a esperança que me faz querer viver.